Monday, November 06, 2006

Para o mundo: Joaquim Moisés, meu filho

Embora eu sempre falo que quero formar um time de futebol de salão com meus filhos, a curto prazo eles não faziam parte dos meus planos. Mas eis que o mundo dá voltas e nelas, muitas coisas acontecem. E assim sendo, comigo também aconteceram.
Nem bem recuperado do meu transplante de medula, meio sem cabelos e com inúmeras restrições, ele bateu à minha porta. Eu, de começo, meio desconfiado não acreditei. E quase que completamente sem chão ficaram meus pés: Sim, eu seria pai.
A notícia veio em Maio desse ano. A Fernanda (minha ex, ou minha atual namorada ou, como sempre penso pra mim e dificilmente eu digo pra ela, minha futura senhora Mrack), contou-me por telefone que estava grávida de 5 meses e, bom, eu seria o pai. Fiquei confuso e a "ficha" demorou a cair. Estranho para mim, e um caso à parte na medicina, uma vez que transplantados dificilmente mantem a fertilidade após as sessões de quimioterapia - o que aconteceu comigo em 2005.
Bem, chegando de histórias complicadas (que piada, até parece que essas histórias vão acabar um dia), o Joaquim Moisés Gewehr Mrack chegou no Dia do Gaucho, 20 de Setembro de 2006, as 15:25hs na cidade de Candelária, RS. É verdade que deu um susto antes de botar a cara no mundo, mas veio com saúde e trouxe uma alegria imensa para mim e para a Fernanda. Na verdade, não foi só para nós que ele trouxe alegrias, mas pra todo mundo que nos rodeia.
De momento não acreditei que eu, de bisneto, neto e filho, agora ocuparia também o cargo de PAI. Porém, conforme o tempo passa e as coisas andam eu aprendo pouco a pouco as tarefas dessa nova empreitada. Queria estar mais perto dele, é bem verdade. Poder abraçar um ser tão pequeninho e tão amável faz a gente esquecer qualquer outras coisa. E saber que ele será tudo aquilo que a gente ensinar, é uma tarefa maravilhosamente compensadora. Também queria estar mais perto da Fernanda e ajudar ela, porque afinal, as madrugadas em claro, as mamadeiras, as fraldas e tudo mais é ela que está encarando sozinha, longe mais de 200km de mim.
O que penso hoje? Penso em estar presente o maior tempo possível, tornar minha relação com a Fernanda a melhor possível, ganhar muito, mas muito dinheiro e dar ao Joaquim tudo aquilo que ele merece.
Posso ainda estar longe de conseguir isso mas, afinal, o mundo dá voltas.

Thursday, October 26, 2006

O tempo passa e as coisas não mudam

Lá vem outro post enorme, que droga!
Nesse mes de Outubro mais viajei do que fiquei em casa. Em São Paulo, no hospital; depois em Florianópolis, no SBES apresentando o Merlin; depois em Candelária visitando meu filho, o Joaquim; depois em Santa Cruz e agora, escrevendo este post, em Porto Alegre, porque amanhã tem aula de novo.
Nessas viagens deu tempo pra olhar pro passado e ver que as coisas não mudam mesmo. Eu, continuo gostando e brigando com a Fernanda; no trabalho, meus antigos colegas continuam fazendo o mesmo trabalho de dois anos atrás quando eu estava com eles; no hospital, continuo agradecendo a Deus por estar curado enquanto em casa, não penso nisso e por vezes me arrependo; no mestrado, continuo flautiando e empurrando as coisas com a barriga (sim, vou terminar ele, mas na verdade sei que o título de Mestre que vou receber parecerá não ter sido tão glorificante quando poderia ser se eu realmente tivesse suado a camisa para conseguir - parece mais a prova do poscomp que eu fiz e passei sem me preocupar quase nada com ela); na 3Layer, os projetos se acumulam e a expectativa e os planos são sempre grandes, muito embora pouca coisa vá para frente mesmo (é, é difícil começar).
Que droga de novo, mas pra terminar, o post pára por aqui porque enfim algo mudou: o post foi pequeno. Viva!

Saturday, April 29, 2006

Não adianta, Murphy está entre nós

Ontem mais uma vez Murphy manisfestou-se para mim. Meu roupeiro estava cheio de roupa que eu tinha lavado mas ainda não tinha passado a ferro. Como estava com pressa pra ir no mercado antes que fechasse, resolvi colocar um tênis e fui catar um par de meias no roupeiro. Como a luz do quarto estava queimada (isso ainda!), estava escuro e fui pegando as coisas em meio a luz que vinha do corredor. Dei de mão entre as roupas e peguei um pé de meia e depois outro. Fui para o corredor para conferir o resultado: uma diferente da outra. Normal. Voltei ao roupeiro. Tapas pra cá, tapas pra lá, achei outro pé. Fui ao corredor conferir: diferentes. Cada vez que eu ia ao roupeiro mantinha os "pés" que eu havia trazido no corredor, caso algum desse certo. Eu estava com pressa. Mas mais do que com pressa, risonho estava ao meu lado o nosso amigo Murphy. Sim, ele se divertia ao ver eu correr de um lado para o outro com os pés-de-meia na mão. Foram nada menos que sete corridas até o primeiro par dar certo. Sete! Trocando em miúdos era o número de meias diferentes que eu tinha no roupeiro. Isso mesmo, pra variar Murphy elegeu a última tentativa como a que daria conta do recado. Bom, pelo menos enquanto eu ia ao mercado, o Murphy deve ter ficado em casa olhando televisão. Ou foi ao encontro de outro, fazer o que mais sabe. ô Murphy.

Monday, March 06, 2006

Fernanda, o amor não é tudo

Quase que esse post tinha que ir para o Quilixo, mas achei colocar aqui...
Namorei por muito tempo. E e amei por todo esse tempo. Ainda hoje amo, mas estou sozinho por opção. Difícil opção na verdade, mas realidade.
Quando minha namorada dizia que amor não era tudo, eu discordava. Hoje, porém, não tenho tanta certeza. Ainda gosto dela, mas mesmo assim não nos falamos mais desde da noite do Natal passado.
Quando nos falamos no telefone (coisa que eu não gosto muito - detesto conversa desse tipo por telefone) quase sempre acabamos brigando. Ela quer mais de mim. Na verdade, ela sempre quis o básico: amor, presença, carinho, afeto, honestidade. Tudo aquilo que qualquer pessoa quer isso do seu companheiro. Sempre dei tudo para ela, mas presença, nessa eu falhei sempre E isso acabou provando que o amor talvez não seja tudo mesmo. É preciso algo mais pra manter duas pessoas juntas.
Meus objetivos de vida confrontam diretamente com o relacionamento que ela deseja para nós. Poderia achar um meio termo, mas sou fraco para mudar. Não consigo. Lembro da minha família, do meu pai e daí penso que vou fazer de tudo para conseguir ter sucesso nessa empreitada. E isso está custando o amor dela.
Agora estou sozinho no apartamento. Mas isso não é novidade. Sempre estou sozinho. Rodo a cidade, vou em vários lugares e volto, como o cachorro que se soltou da coleira e correu pela cidade o dia inteiro acaba voltando para a casa. Ando por todos lugares e volto pra casa, com ela no fundo do coração.
Parece que vejo meu futuro, com meus objetivos cumpridos, mas com um coração vazio - e frio. Amargurado por ter deixado escapar, como areia nos dedos, o amor da minha vida.
Brigava com ela sim. Mas quem não briga? Encho o peito de ar, suspiro. Olho a janela e volto o olhar para o apartamento. Sim, estou sozinho.
Triste? Ainda não. Meu coração ainda não sofreu bastante para que eu possa sentir isso.

Sunday, February 26, 2006

Pai, te desejo o melhor do mundo

Se tem um cara que eu daria tudo que tenho é meu pai. Ele é meu ídolo e não porque sou seu filho, mas sim porque ele é um cara incrível. O que mais admiro em você é sua capacidade incrível de superar as dificuldades que a vida coloca em sua frente.
Ficou órfão do pai ao cinco anos; viu a última grana da família ser gasta pra pagar a faculdade do seu irmão, lutou e foi para a cidade grande. Teve uma juventude de liberdade e alegrias. Largou tudo e veio para o interior de Santa Cruz, um fim de mundo comparado onde tu andava. Conheceu a mãe e acho que meio sem querer eu apareci na história. Naquela época as coisas eram difíceis e bravamente você encarou tudo e todos, não desistiu e com luta, garra e tolerância adquiriu, pelo suor cada coisa na vida. Não foi muito, mas também nunca foi pouco. Foste um pai como poucos, sempre justo e presente. Nunca falou muito comigo e nem precisava, pois seu olhar, seus gestos sempre falaram por ti.
Ainda hoje lembro do chevrolet verde que enfrentava frio, chuva e noites em claro pra trazer comida pra casa. Lembro do ronco do caminhão subindo a lomba de casa a noite eu eu alegre que ficava de reconhecer o barulho e correr pra frente de casa pra te esperar. Ficava contente de sentir o cheiro do motor diesel, guerreiro estacionando em casa. E quanto me encheia o coração quando você trazia um pacote de balas ou um sorvete ou qualquer coisa que tinha junto. Lembro das vezes que eu ia junto e de tão pequeno que eu era conseguia ficar de pé em cima do banco e nem batia a cabeça no teto. Lembro da felicidade que era eu tirar seus sapatos e buscar os seus chinelos no quarto e fuçar no meio dos seus dedos.
O tempo passava e eu crescia sem perceber. Os tempos bons iam ficando pra trás e a gente nem percebia. Chegara minha adolescência e o caminão não fazia mais parte da família. Você abrira uma sorveteria e trabalhava noite e dia naquela máquina e quando cansava daquilo corria pra trabalhar na oficina em casa. Aprendi o ofício e te ajuda com alegria. Também no chapeamento eu mexia e aprendi como poucos nesse Brasil a trabalhar numa lataria com qualidade. Aprendi contigo também mecânica e dignidade, gosto pelo trabalho e força de vontade. O governo mudou, a economia também e as coisas ficaram difíceis. Mas nem assim as coisas faltaram em casa. Teu trabalho sempre foi suficiente. Calotes te deram, e você se manteve. Arregaçou ainda mais as mangas e encarou a vida com seriedae. Veio meu irmão e acho que você se realizou duplamente. Ambos te amamos meu pai. O tempo passou e as coisas não melhoraram. Sim, os tempos de fartura e alegria ficavam cada vez mais distantes. Quase morreu em um acidente. Perdeu muito, mas não se abalou. Trabalhamos juntos e como sempre me incentivava para estudar, embora eu não quisesse. Entrei para faculdade e com seu esforço ela foi se concretizando. Mas as vacas magras contiuavam a pastar em casa. Mais calotes e sua boa vontade atraía falsários para nossa família. Mas encaraste as dificuldades e com trabalho e esforço redobrados andou pra frente. Caí de moto, quebrei a perna e esteve ao meu lado. Vendeste bens e submeteu-se para me ver melhor. Melhorei. Depois veio minha leucemia e por 8 anos lutamos juntos. Não sei como conseguiste meu pai. Tiraste forças da onde? Perdeu o resto que tinhas. Poucos deram ajuda. Muitos viraram as costas. Teus cabelos ficaram brancos, os óculos te chegaram como parceiros para não mais te abandonar. As preocupações trouxeram o vício do cigarro e o trabalho massante secou teu corpo. O vigor e a virilidade de antes hoje são apenas percebidas pela força da tua voz. Alta por verdade, mas serena. Minha saúde piorava e estando eu a dias de um fim inglório, largou teus a fazeres, endividado, exausto e cabisbaixo não me abandonaste. Vi chorar em meu ombro. Tentaste outro filho pra me salvar e ganhei uma irmã (se bem que a mãe não gostou da idéia, por ela não ser a felizarda...). Fiz o transplante, não com a mana, mas acho que vai dar certo. Está dando certo pelo menos. Me formei, estou fazendo mestrado e montei uma empresa. Larguei da namorada e embora eu chore por ela muitas noites nesse JK onde moro sozinho, não vou abandonar meu sonho. Quero mostrar que o esforço da tua vida há de valer a pena. Quero mostrar que teu filho terá sucesso na vida meu pai.
Tenho saudade dos tempos dos teus cabelos escuros e dos fins de semana regados a cerveja. Quando te vejo hoje endividado, cabisbaixo e rebaixado pela minha mãe meu coração fica pequeninho, esmagado contra o peito. Hoje ainda sou pobre em dinheiro e mesmo assim você quando pode (e mesmo quando não pode) me ajuda.
Se tem alguém que eu admiro é você meu pai. Antes de eu deixar esse mundo quero te dar motivo de alegria. é verdade que poderia começar te dando um abraço, ou mesmo trocando uma palavra amiga contigo. Como disse, nasci bruto e a vida não foi das melhores conosco até agora, mas ambos sabemos que daríamos a vida mutuamente para o bem alheio.
Você é especial meu pai.

Saturday, February 04, 2006

Este sou eu

Este sou eu. A data dessa foto é de setembro de 2005. Estou careca, magro e cheio de manchas no corpo.
Isso foi devido uma quimioterapia violenta, para que eu pudesse fazer um transplante de medula óssea para curar uma leucemia que vinha me perseguindo desde 1998.
Felizmente fiz o transplante e hoje estou melhor, como na foto abaixo:















A máscara é para evitar contaminações no período de recuperação, que deve durar até Abril/2006. As vezes fico sem máscara (dentro de casa), e fico mais ou menos assim:


Ou assim:

Bom, esse seu eu.
Quando tiver mais tempo eu falo de mim :)