Friday, October 12, 2007

É, também tenho disso.

Guri novo, normal e cheio de planos pro futuro. Aos 21 anos, em novembro de 1998, num exame de sangue sugerido por uma tia que era médica, descobriu que tinha uma doença grave e incurável, exceto por um transplante: leucemia mielóide crônica.

Dada a situação, o prognóstico sem transplante seria de até 3 ou 4 anos de sobrevida. Não abalou-se e continuou a vida praticamente normal. Redução um pouco nas festas e na bebida, mas só.

Nesse meio tempo, sem doadores encontrados na família (com pesquisa de parentes até 2 grau), acustomou-se a uma vida nova: exames quinzenais de sangue, semestrais de medula (dolorido uma barbaridade :), hospitais e amizade com médicos e enfermeiras. Tudo em nível ambulatorial, sempre.

Fez o tratamento de praxe para controlar a doença até o limite possível, mas essa progrediu conforme era o esperado. Tentou tratamentos alternativos, mas sempre seguindo à risca a medicina convencional.

Em 2001, com a doença já bastante avançada e ainda sem doador, mesmo utilizando o banco mundial de medula, teve a oportunidade de entrar para um grupo seleto de menos de 300 pessoas no mundo que iriam testar um novo medicamento: o "STI". Tornou-se assíduo na cidade de Curitiba, onde os testes eram realizados. A doença voltou ao controle. Nessa época se formou em Computação, na sua cidade natal, Santa Cruz do Sul.

Em 2004, se sentindo bem, relaxou um pouco no tratamento e a doença voltou agressiva. No início de 2005, o então médico Marcelo Capra, deu um prognóstico ruim: 6 a 8 meses. Nessa época iniciava o mestrado, na UFRGS.

Nesse meio tempo, em em uma manhã de Maio ao acordar e olhar suas pernas, notou que elas estavam completamente roxas. Com o conselho do médico, correu para o hospital e fez, aquele que seria, seu primeiro, inufsão de sangue. Sim, agora parecia que a coisa não estava boa.

Felizmente, poucos dias depois, numa linda manhã na casa da mãe, o celular tocou: o mesmo pessoal de Curitiba acabara de encontrar um doador. O Sol brilhou mais forte naquele dia.

Tentou agilizar o transplante, mas a fila de espera naquela cidade era, no mínimo, de 6 meses. É, nem tudo são flores.

Indicado pelo médico e amigo Marcelo Capra, foi indicado para ir à cidade de Jaú - SP, local onde existe um centro de transplantes de referênca e que parecia não ter uma fila tão longa. Foi e fez lá sua primeira consulta. Duas semanas depois, no dia 31 de Maio finalmente viajou com sua namorada para a tal cidade fazer o transplante.

Três semanas depois de iternação no hospital, sob forte quimioterapia, finalmente recebeu a tão esperada infusão do sangue com a nova medula. Das 21:15h as 21:45h viu descer gota à gota no catéter, não um viscoso e escuro sangue, mas sim uma esperança de vida. Nesse meio tempo, mesmo na cama do hospital, com a ajuda da namorada e dos amigos pela Internet, conseguiu terminar o semestre de aula.

Passados 24 dias, saiu do isolamento. Sem cabelos (e nenhum outro pêlo no corpo), com os dentes e a pele manchados pela quimioterapia, ficou morando 2 meses naquela cidade. Com cuidados diveros, quanto à limpeza, alimentação e outras coisas simples, não sentia o gosto da comida, devido os papilos destruídos e também não podia ir ao Sol de forma alguma.

Com máscara, saia de casa totalmente coberto e de guarda-chuvas. Na rua, era comum ver outras pessoas na mesma condição, uma vez que naquela cidade, devido o hospital, isso é comum. Fato esse interessante, que contrasta muito com o "nosso" Sul, onde uma simples máscara no rosto faz as pessoas atravessarem rua!

Voltando para casa, em setembro de 2005, reviu seus amigos e familiares. Pela primeira vez viu seu irmão chorar - mas de alegria. Embora a namorada tenha o acompanhado em todos esses momentos, o destino quis que enfim terminassem o namoro.

Fim de ano, outro semestre de aula concluído. Vida nova estava começando. Com os cuidados sendo diariamente minimizados, devido a constante melhora, livrou-se enfim de todos os medicamentos. E da máscara.

Maio novamente. Agora, 2006. Um ano depois do seu transplante de medula, vindo da sua ex-namorada, outra notícia de magnitude na sua vida: seria pai.

Contrariando todas as expectativas médicas (que insinuam que a quimioterapia é altamente tóxica e destrutiva para as células geminativas) tentou aproximar-se novamente da sua sempre amada. Porém, o destino de ambos parece que não teria mais um ponto comum. Paralelos sim, mas sem mais cruzamentos.

Embora não tenha sido flores esse caminho, no dia 20 de Setembro de 2006, Joaquim Móises, seu filho nascera. Felicidade em dobro. De uma sobrevida à duas novas vidas.

Hoje, tem vida normal, com monitoramento médico semestral. Montou uma empresa, trabalha, está finalizando o mestrado e visita seu filho sempre que possível. Traça planos, não para 6 meses, mas para anos, décadas.

Lições aprendidadas? Muitas. Tanto que espera poder escrever um livro o quanto antes.

Dicas? Idem. Algumas: Tenha amigos e seja amigo. Aprenda sobre sua doença, explore o médico. Busque respostas, corra atrás. Procure ajuda nos órgão governamentares, secretarias de saúde, promotores de justiça, televisão, rádio. Na paróquia do seu bairro. Cobre seus direitos, pois se não o fizer, talvez ninguém o faça. Mostre que está doente e cobre respeito. Aos que estão em situações piores, conforte-os. Não desista da vida, do trabalho, dos seus sonhos. Enfrente o pior de cabeça erguida. Se precisar, chore. Se puder, sorria. Se ainda puder, faça um, dois, três, enfim, vários churrascos com os que te rodeiam e nunca espere para dizer obrigado e dar um abraço naqueles que mereçem.

Tuesday, October 02, 2007

Enfim, chegamos!

Bom, pelo meu relógio no note faz 1 minuto já. Um minuto que estou com 30 anos.

Na verdade, pelo que consta vou fazer esses 30 anos as 23:30h da noite dessa terça. Mas isso não tem muito interesse, porque todos os sistemas que eu já construí ou mesmo usei, não levam em consideração os horários...

Pois bem, e o que é isso? Deixa eu ver...hum, não estou sentido nada de diferente. Nem uma ruga a mais do que ontem, nem um foguetório nas redondezas. A Internet continua funcionando, o Winamp tocando e a ISS orbitando.

Da mesma forma, meu primeiro milhão ainda não está na minha conta. Talvez o Merlin, o Magoo, o Melvin, ou o Jestor vêm dar conta disso em alguns anos, mas o fato é que não estou na situação que eu imaginava quando criança.

Eu imaginara ser astronauta quando criança. E quem não? Mas digo, sério, eu mais do que a maioria. Tinha até traçado planos: ITA, aeronáutica e Física. É...mas tempos difíceis estavam por vir, Potter.

Uma perna quebrada, uma leucemia, um longo e belo namoro e um lindo filho não planejados e uma série de outros detalhes deslocaram com os meus primeiros planos.

Mas hei, que não desistimos. E hoje vejo, que um horizonte amplo ainda existe.

Sim, os tempos da JH Santos não foram em vão. A bagagem acumulada é grande. Como diria meu amigo e sócio Mac, poderíamos tranquilamente ficar 3 anos sem estudar que ainda estaríamos muito a frente do mercado.

É, mas o mercado, e a vida, andam. E velozmente.

Tenho por acabar o mestrado, estar presente ao Joaquim e de meus pais, aprender a viver sem "aquela" pessoa e encarar que, na melhor das hipóteses, estou em sobrevida (quem conheçe minha história sabe).

Mas então, que essa sobrevida valha a pena.

"Pau" no mestrado, no GED, no Magoo, no Merlin, na 3L, no Jestor e no Melvin. Atenção suprema para o Joaquim e brandura com minha família. E festas, claro!

O tempo urge, e eu corro.

Que os próximos dez anos próximos cheguem. E que tragam alegrias e desafios, tantos ou mais quanto os que eu tenho hoje.

"Bora", Paulo César!

Monday, October 01, 2007

Uma vida de história e um livro em gestação. E a saudade que o acompanha.

Já falei que eu ia escrever um livro? Acho que sim, mas não para vocês.

E o que ele terá? Terá coisas como o texto abaixo, texto esse que escrevi no dia do primeiro aniversário do meu filho. Catando o note agora eu encontrei ele, e assim, deixo para vocês irem antecipando.

Hoje foi o primeiro aniversário de meu filho. Vim de Porto Alegre ontem noite. E para mim não foi nada de esforço. E nada que eu fizesse, nunca seria ou será esforço comparado àquilo que a Fernanda – Anicona – mãe dele faz. Ela sim, mereçe o sorriso do Joaquim.

Agora estou aqui, escutando Australian Crawl no rádio, e Antologia, da Shakira no note. O Joaquim, esse cabeludo enroladinho, está aqui, atrás de mim, dormindo na minha cama.

Cama essa que já foi, para mim e a mãe dele, nosso ninho de amor. Quanta saudade. Não penso em saudade por causa do furor (agora começou Meredith Brooks, no note) do sexo – que sempre foi marivilhoso entre nós – ou da sensação de felicidade que era abracá-la durante a noite. Mas saudade, da sua simples presença.

Nesse momento, Anicona deve estar nos braços de outro. E isso não me magoa. O que magoa é ela não estar nos meus braços. Joaquim acaba de suspirar. Acho que está sonhando. Ele se vira na cama e me deixa aqui, suspirando idem. Te amo, pequeninho.

E a saudade? Ela me acompanha. No celular, tenho as fotos dela. E é incrível, mas me pego, muitas vezes, olhando o timestamp da foto, e lembrando...lembrando dos momentos. Dá vontade de suspirar. Meus pêlos ouriçam. Sim, é 20 de setembro e está frio (começou agora no note Cristian e Ralf – adoro eles, já disse? – no rádio, acho que é algo como Abba, ou outra coisa assim dos anos 60). Eta nostalgia! Acabo de me lembrar da festa no salão, como é o nome...não lembro. Aquela festa onde o Ivan conheceu a Tatiane. Uma das melhores que já fiz. Lembro como se fosse hoje. O salão. A chegada. Os amigos. O ambiente. Nossa, me lembro cada detalhe. Ah, e lembrei agora: Miller, era o nome. E nesse interim, poderia aqui encher páginas e páginas de cada detalhe - literalmente. As rodadas de bebida, os deputados (ahah, essa é boa). Suspiro de novo. Cara, que saudade!

E o Joaquim? Que era pra ser Moisés. Ou Gabriel (e não foi por causa daquele, daquele...). (Cara, que som no rádio. Que lenta.). Vou dormir. E essa noite, com meu filho.

Bem, talvez não interese a muitos, ou talvez não interesse à ninguém. Não importa. O que importa é que a mim, e aos que viveram isso, interessa. E que eu sei, muito.

Já tenho tudo planejado, e peço a Deus que eu o faça. A capa, o estilo da fonte, a cor, a imagem. Tudo. E que seja o quanto antes. O quanto antes.